Mensagem à minha psiquiatra

     Tenho que escrever porque não me posso fiar em mim própria para dizer a verdade e pelos vistos consigo enganar mesmo sem querer, ou as pessoas preferem ver o reflexo das suas expectativas.

   Não é verdade que tenho reduzido o consumo de medicamentos ou de bebida alcoólica. Eu minto, roubo, gasto muito mais do que posso e não consigo relacionar-me profissionalmente, ou de outra forma, diga-se em abono da verdade. Não consigo manter uma rotina quer de medicação, quer de horários. Essa falta de estabilidade provoca um processo de pescada de rabo na boca que culmina numa agressividade com pico auto-destrutivo, corto-me, arranco cabelos e dou cabeçadas na parede com a maior facilidade. Acabo a odiar-me e a sentir-me o ser mais reles que alguma vez existiu e tenho um enorme dó de quem tem que testemunhar toda esta situação.

     Se me vir no seu consultório não é isto que vai ver e isso parece não estar a funcionar para nenhuma de nós. Quando aí chego diz-me, invariavelmente, que me acha mais estável. Nada podia estar mais longe da realidade e eu sou incapaz de o dizer. Acho que sou a imagem de um vulcão cheio de lava, mas aparentemente extinto…

     Será que consegue lidar com isso?

     Será que me pode efectivamente ajudar?

     Será que consegue ver através da minha máscara?

   Porque digo honestamente que a vontade de ir à consulta marcada para Setembro é nenhuma. Sinto que é inútil falar mais uma vez sobre medicação quando a qualidade do meu dia a dia continua a ser inclassificável. Talvez se me puder ouvir e não pôr palavras na minha boca possamos chegar a algum lado…Talvez…